Marcelo M. Guimaraes
26/06/2016

Impressão artística do planeta K2-33b orbitando próximo à estrela jovem K2-33. [1]
Impressão artística do planeta K2-33b orbitando próximo à estrela jovem K2-33. [1]
Duas descobertas interessantes, vindas de 3 artigos diferentes, podem sacudir as teorias de formação de planetas gigantes gasosos que orbitam muito perto das suas estrelas de origem.

Ao estudar os dados obtidos pelo satélite Kepler para a estrela K2-33 (que tem metade da massa do Sol, mas tem o mesmo diâmetro!), dois times encontraram, de forma independente, um planeta gigante (nomeado K2-33b) com período de aproximadamente 5,4 dias. Esse período tão curto implica que o planeta tem uma órbita muito próxima da estrela, cerca de 0,05 UA, o equivalente a apenas 5% da distância da Terra ao Sol! [2]

A equipe liderada por Trevor David publicou seus resultados na revista Nature [3], informando que K2-33b teria raio de 5,8 (± 0,6) raios da Terra e a estrela K2-33 teria idade entre 5 e 10 milhões de anos.

A equipe liderada por Andrew Mann publicou seus resultados na revista The Astronomical Journal [4]. Eles estudaram mais a fundo a estrela K2-33 restringindo sua idade a 9,3 (± 1,1) milhões de anos e reportam um raio de 5,04 (± 0,34) raios da Terra para K2-33b.

Na mesma edição da revista Nature também foi publicado outro artigo [5] sobre a descoberta de um exoplaneta que orbita uma estrela ainda mais jovem. V830 Tau tem idade em torno de 2 milhões de anos e apresenta muita atividade magnética. Foi estudando a atividade magnética, que regula a dinâmica de acreção de matéria a partir do disco circum-estelar, que a equipe liderada pelo pesquisador francês Jean-François Donati, com participação da pesquisadora brasileira Silvia Alencar da UFMG, conseguiu detectar um exoplaneta com massa de 0,77 (± 0,15) massas de Júpiter, período de 4,93 (± 0,05) dias, orbitando a 0,057 (± 0,001) UA da estrela. Definitivamente, o exoplaneta mais jovem a ser detectado até o momento.

A pergunta que precisa ser respondida é: esses planetas se formaram ali ou migraram de órbitas mais distantes através de interações gravitacionais?

Os modelos de formação de sistemas planetários consideram que os planetas se formam a partir do gás e poeira do disco circum-estelar. Porém, enquanto alguns modelos sugerem que planetas gigantes gasosos podem se formar próximos das estrelas, outros dizem que isso é impossível devido à intensa atividade estelar e magnética na juventude das estrelas. Nesse caso a sua formação ocorreria em locais mais distantes, com uma posterior migração em direção à região mais central, devido à interação com outros planetas. Outros modelos indicam que pode haver essa migração já no início da formação, devido à interação com o material do disco circum-estelar.

No artigo “Onde os planetas nascem” vimos que há evidências de formação de planetas desde o início da formação dos sistemas planetários. Agora temos mais evidências observacionais com a detecção de 2 exoplanetas gigantes em estrelas muito jovens. É hora de testar os modelos, confrontá-los com os dados observacionais!

[1] Crédito da imagem: NASA/JPL-Caltech/R. Hurt.

[2] 1 UA = 1 Unidade Astronômica = distância da Terra ao Sol = 150 milhões de km.

[3] TJ David et al. A Neptune-sized transiting planet closely orbiting a 5–10 million year old star. Nature 10.1038/nature18293

[4] AW Mann et al. Zodiacal exoplanets in time (ZEIT) III: a short-period planet orbiting a pre-main-sequence star in the Upper Scorpius OB Association.  The Astronomical Journal 152, 61 (2016).

[5] JF Donati et al. A hot Jupiter orbiting a 2-Myr-old solar-mass T Tauri star. Nature 10.1038/nature18305 (2016).

Como citar este artigo: Marcelo M. Guimarães. Qual é o exoplaneta mais jovem e por que isso é importante? Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/06/qual-e-o-exoplaneta-mais-jovem-e-por-que-isso-e-importante/. Publicado em 26 de junho (2016).

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