Tábata Bergonci
13/02/2019

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Nosso DNA está agrupado dentro das células em várias estruturas que chamamos cromossomos! Cada espécie possui número certo de cromossomos, que podem estar organizados sozinhos (e aí chamamos esses seres vivos de organismos haploides), em pares (diploides) ou em maior número de cópias (poliploides). Os seres humanos possuem 46 cromossomos (23 pares, pois somos diploides), algumas espécies de lombriga possuem apenas dois cromossomos e alguns caranguejos chegam a ter mais de 250 cromossomos. Em plantas, o pepino possui 14 cromossomos enquanto algumas samambaias chegam a ter mais de 1000 cromossomos. Em relação a ploidia, algumas espécies de algas são haploides, a maioria dos animais são diploides e a poliploidia é encontrada em várias espécies de plantas (a cana de açúcar, por exemplo, é uma octaploide, apresentando oito cópias de cada cromossomo).

Cada cromossomo possui 4 extremidades, aonde se encontram os telômeros. Telômeros são as extremidades dos cromossomos, aonde o DNA está empacotado. Eles ajudam a proteger o cromossomo, evitando que este se ligue a outros cromossomos ou sofra algum dano. Com o passar dos anos os telômeros vão se encurtando, fenômeno esse ligado ao envelhecimento e também ao surgimento de diversas doenças. Já se sabe que o estresse e hábitos de vida pouco saudáveis encurtam mais rapidamente os telômeros [2]. A perda dos telômeros, inclusive, está comprovadamente ligada ao aparecimento de cânceres.

Nossas células se dividem durante toda a nossa vida, a cada divisão celular, um pedaço dos telômeros é perdido, até que os cromossomos passem a não os tê-los mais. Nesse ponto, as células recebem um sinal para parar de se dividir. Porém, em situações de câncer e outras doenças, as células não recebem a mensagem e continuam se dividindo. A falta de telômero nessas células faz com que os cromossomos se unam e percam a função, característica encontrada em diversos tipos de cânceres.

Mês passado, um grupo de cientistas do SALK Institute, Califórnia, EUA, publicaram na revista Nature descobertas incríveis! Tentando entender como as células que perdem o telômero param de se dividir e morrem, eles encontraram que a autofagia era a responsável pela morte dessas células [3].

Quando a célula decide morrer, existem principalmente dois tipos de caminhos que ela pode seguir, chamados de autofagia e apoptose. Simplificando os processos: 1) na autofagia a célula vai se “alimentando” dela mesma, “comendo” todas as organelas e, por último, o núcleo celular; 2) na apoptose, a célula vai se fragmentando, quebrando seu DNA, encolhendo, até a completa destruição.

O estudo mostra que no caso da perda de telômeros, a morte celular é feita por autofagia (sempre se pensou que era por apoptose!). Os cientistas então bloquearam a autofagia em células sem telômero e descobriram que elas sobrevivem, não utilizam apoptose ou outro meio para a morte, continuam a se dividir e geram posteriormente o câncer. Em outro experimento, quando os cientistas causaram danos em outras partes do cromossomo e deixaram os telômeros intactos, a morte celular se deu por apoptose.

Para os pesquisadores, o estudo mostra diversas descobertas interessantes: 1) não sabíamos que células sem telômeros poderiam sobreviver; 2) não sabíamos que a autofagia estava envolvida na morte celular por falta de telômeros; 3) não sabíamos a importância da autofagia  em prevenir a acumulação de danos genéticos.

[1] Crédito da imagem: Karl-Ludwig Poggemann, Flickr, CC BY 2.0, https://www.flickr.com/photos/hinkelstone/33255693331.

[2] E Epel, E Blackburn. O Segredo Está nos Telômeros: Receita Revolucionária Para Manter a Juventude, Viver Mais e Melhor. Planeta (2017).

[3] J Nassour et al. Autophagic cell death restricts chromosomal instability during replicative crisis. Nature 10.1038/s41586-019-0885-0 (2019).

Como citar este artigo: Tábata Bergonci. Cientistas encontram processo celular que para o câncer antes mesmo dele começar! Saense. http://saense.com.br/2019/02/cientistas-encontram-processo-celular-que-para-o-cancer-antes-mesmo-dele-comecar/. Publicado em 13 de fevereiro (2019).

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