ESO
07/02/2019

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Esta região da Grande Nuvem de Magalhães brilha em cores fortes nesta imagem capturada pelo instrumento MUSE (Multi Unit Spectroscopic Explorer) montado no Very Large Telescope do ESO (VLT). A região, chamada LHA 120-N 180B (ou N180B) é um tipo de nebulosa conhecida por região HII, onde se formam novas estrelas.

A Grande Nuvem de Magalhães é uma galáxia satélite da Via Láctea, visível essencialmente no hemisfério sul. A apenas 160 000 anos-luz de distância da Terra, esta galáxia encontra-se praticamente à nossa porta. Para além de estar próxima de nós, o único braço em espiral da Grande Nuvem de Magalhães aparece-nos praticamente de face, o que nos permite observar facilmente regiões tais como a N180B.

As regiões HII são nuvens interestelares de hidrogênio ionizado — os núcleos de átomos de hidrogênio. Estas regiões são maternidades estelares, onde estrelas massivas recém formadas são responsáveis pela ionização do gás circundante, fazendo destas nuvens objetos celestes muito bonitos. A forma distinta da N180B é formada por uma enorme bolha de hidrogênio ionizado rodeada por quatro bolhas menores.

No interior desta nuvem resplandecente, o MUSE descobriu um jacto a ser lançado por uma estrela jovem — um jovem objeto estelar massivo com uma massa 12 vezes maior que a do nosso Sol. Podemos ver este jacto — chamado Herbig-Haro 1177 ou HH 1177 — com todo o detalhe na imagem acompanhante. Trata-se da primeira vez que um tal jacto é observado no visível fora da Via Láctea, uma vez que normalmente estes objetos encontram-se obscurecidos pela poeira que os rodeia. No entanto, o meio relativamente livre de poeira da Grande Nuvem de Magalhães permite-nos observar o HH 1177 nos comprimentos de onda do visível. Com uma dimensão de quase 33 anos-luz, trata-se de um dos jactos deste tipo mais compridos alguma vez observados.

O HH 1177 dá-nos informação sobre a vida inicial das estrelas. O raio é altamente colimado, ou seja, quase que não se espalha à medida que viaja. Jactos deste tipo estão normalmente associados aos discos de acreção das suas estrelas, dando-nos informação sobre como é que estrelas muito jovens ganham matéria. Os astrônomos descobriram que tanto as estrelas de baixa massa como as de elevada massa lançam jactos colimados como o HH 1177 por meio de mecanismos semelhantes — o que nos leva a supor que as estrelas massivas se formam do mesmo modo que as suas companheiras de pequena massa.

O MUSE foi recentemente melhorado com a adição da Infraestrutura de Óptica Adaptativa no Modo de Campo Largo, a qual viu a sua primeira luz em 2017. A óptica adaptativa é o processo pelo qual os telescópios do ESO compensam os efeitos de distorção da atmosfera terrestre — transformando estrelas cintilantes em imagens nítidas de alta resolução. Desde a obtenção destes dados, a adição do Modo de Campo Estreito deu ao MUSE uma visão quase tão nítida como a que tem o Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA — permitindo-nos assim explorar o Universo com um detalhe sem precedentes. [2], [3]

[1] Crédito da imagem: ESO, A McLeod et al.

[2] Este trabalho foi descrito num artigo científico intitulado “An optical parsec-scale jet from a massive young star in the Large Magellanic Cloud” que foi publicado na revista Nature. A equipa de investigação é composta por A. F. McLeod (que levou a cabo este trabalho quando estava a trabalhar na Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia e que está agora afiliada ao Departamento de Astronomia, University of California, Berkeley, e ao Departamento de Física e Astronomia, Texas Tech University, EUA), M. Reiter (Department of Astronomy, University of Michigan, Ann Arbor, EUA), R. Kuiper (Instituto de Astronomia e Astrofísica, Universidade de Tübingen, Alemanha), P. D. Klaassen (UK Astronomy Technology Centre, Royal Observatory Edinburgh, RU) e C. J, Evans (UK Astronomy Technology Centre, Royal Observatory Edinburgh, RU).

[3] Esta notícia científica foi traduzida por Margarida Serote (Portugal) e adaptada para o português brasileiro por Gustavo Rojas.

Como citar esta notícia científica: ESO. Bolhas de estrelas recém nascidas. Tradução de Margarida Serote e Gustavo Rojas. Saense. http://www.saense.com.br/2019/02/bolhas-de-estrelas-recem-nascidas/. Publicado em 07 de fevereiro (2019).

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