Luana Mendonça
28/01/2019

Uma das ilhas de Galápagos, Seymour Norte, primeira ilha escolhida para a utilização de drones na aplicação de veneno contra os ratos (espécie introduzida na ilha). [1]
Quem acompanha os textos no Saense sabe que eu já escrevi algumas vezes sobre espécies não-nativas (também é um dos temas que eu venho pesquisando durante o doutorado), mas se você é novo por aqui e estiver interessado em ler mais sobre o assunto, basta clicar aqui!

Outro texto que eu escrevi para o Saense também está relacionado ao tema de hoje. Nesse texto eu falei sobre o efeito cascata da introdução de ratos em um conjunto de ilhas no Oceano Indico, que finaliza com a diminuição dos recifes de corais! Tendo em mente que a introdução, geralmente realizada pelo homem, de espécies que não pertencem aquele local podem modificar o ambiente e prejudicar as espécies e até levar algumas dessas espécies a se extinguirem localmente, pesquisadores estão cada vez mais buscando formas de não apenas evitar a introdução dessas espécies, mas de remover as espécies (dentro do possível) dos ambientes em que elas foram introduzidas.

Um exemplo de pesquisa que está sendo realizada nesse sentido é a que vem sendo realizada em Galápagos. Nesse conjunto de ilhas, algumas espécies não nativas de porco e cabra [2] foram completamente removidas por estarem prejudicando a reprodução de espécies de plantas e animais e com isso prejudicando o ecossistema local. Vale ressaltar que a introdução de espécies em ilhas é muito mais prejudicial do que no continente, pois como as espécies nesses locais estão isoladas a muito tempo, elas perderam ou não adquiriram a capacidade de lidar com espécies exóticas. O novo passo agora é remover os ratos dessas ilhas e, para isso, os pesquisadores estão utilizando uma nova ferramenta, os drones [3].

Em 12 de janeiro desse ano, os pesquisadores começaram a aplicação de veneno contra rato utilizando quatro drones em uma das ilhas (imagem acima), mas os drones apresentaram problemas mecânicos quando o veneno tinha sido aplicado em metade da ilha, então os pesquisadores tiveram que aplicar o restante pessoalmente (caminhando e cantando e seguindo a canção). Porém, assim que os problemas mecânicos forem resolvidos o grupo pretende fazer uma segunda aplicação do veneno na ilha e monitorar o efeito nas populações de ratos pelos próximos dois anos.

O uso de tecnologias como os drones é uma alternativa mais barata, mais simples e talvez mais eficiente para o controle de pragas e monitoramento de espécies e de ambientes. Usei o talvez mais eficiente, pois os mesmos pesquisadores que estão fazendo a aplicação do veneno também estão aproveitando para testar a eficácia desses drones não apenas no monitoramento, mas em ações específicas como a aplicação de pesticidas.

Você pode estar se perguntando, pelo menos eu me perguntei, se esse veneno que está sendo aplicado não pode prejudicar outros animais…é uma ótima pergunta e infelizmente eu não posso responde-la, pois não sei a natureza do veneno. Porém, por acreditar na ciência e nos pesquisadores eu imagino que um estudo sobre possíveis efeitos em outras espécies foi realizado, mesmo que hipoteticamente. Nos resta apenas torcer para que o veneno erradique apenas a espécie não nativa e que tenha efeito nulo ou mínimo nas espécies locais. Aguardarei (aguardaremos) os resultados desse experimento com pensamento positivo!

[1] Crédito da imagem: Diego Delso, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=42498981.

[2] H Nocholls. Ecuador has successfully eradicated invasive pigs and goats from most of the Galapagos archipelago. Now it is taking on the rats. Nature 497 (2013).

[3] E Marris. Drones unleashed against invasive rats in the Galápagos. Nature News 10.1038/d41586-019-00176-z (2019).

Como citar este artigo: Luana Mendonça. Usando drones para o controle de pragas e espécies não-nativas!. Saense. http://saense.com.br/2019/01/usando-drones-para-o-controle-de-pragas-e-especies-nao-nativas/. Publicado em 28 de janeiro (2019).

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