Marco Túlio Chella
21/08/2018

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Vários tratamentos médicos podem se beneficiar do monitoramento contínuo de sinais biológicos como batimento cardíaco, temperatura do corpo, nível de açúcar no sangue entre outras.  Talvez o mais conhecido seja o eletrocardiograma de longa duração, ou exame Holter, cujo nome é uma homenagem a Norman Holter, biofísico norte-americano que projetou os primeiros dispositivos eletrônicos para monitoramento.  Os equipamentos atuais para exame Holter são constituídos por um gravador digital e eletrodos que presos ao paciente registram os sinais elétricos gerados pelo coração. Alguns desses dispositivos estão conectados à Internet e enviam os dados a uma central, possibilitando ao profissional de saúde acompanhar em tempo real as condições do paciente.  O exame Holter não interfere na rotina diária do usuário.

Um sinal biológico importante no tratamento das doenças do coração é a medição da pressão arterial que, em aparelhos tradicionais, consiste em medir a dilatação de uma coluna padrão de mercúrio. No procedimento é preso ao braço do paciente um manguito que é inflado e desinflado e as medidas tomadas. Apesar do procedimento ser simples não é adequado para o monitoramento contínuo, além de ser desconfortável.

Estudos [2][3] sugerem que o PTT (Pulse Transit Time), o intervalo de tempo que picos de ondas gerados pelo coração levam para propagar para alguns pontos do corpo, pode ser utilizado para estimar a pressão artéria sistólica e diastólica.

Tendo com referência esses estudos pesquisadores da instituição Microsoft Research [4] desenvolveram o protótipo de um dispositivo para medição da pressão arterial a partir de fotopletismograma que, tipicamente, é um dispositivo constituído por fonte de luz vermelha e infravermelha presa em alguma parte do corpo, geralmente dedos, e que mede a reflexão da luz nas artérias.  O dispositivo consiste em um sensor composto por LED, circuito eletrônico analógico para aquisição e conversão da luz em sinal elétrico proporcional a reflexão da luz, processador para digitalização e execução de filtros digitais, e algoritmos para indicar a pressão arterial. As medições são feitas por três conjuntos de sensores que são montados em uns óculos.

O dispositivo foi avaliado com um grupo de paciente comparando as medidas entre o protótipo e um equipamento comercial tradicional. Os resultados indicaram a viabilidade da técnica e funcional do dispositivo. A característica de monitoramento contínuo dispensando qualquer intervenção do paciente e alteração na rotina diária é um ponto destacado pelos pesquisadores.

Certamente não será difícil adicionar ao dispositivo um mecanismo de comunicação que permita, além do monitoramento contínuo, o acompanhamento em tempo real das condições do paciente.

[1] Crédito da Imagem: geralt (Pixabay), CC0 Creative Commons . https://pixabay.com/pt/banner-cabe%C3%A7alho-press%C3%A3o-arterial-918218/.

[2] R Wang et al. Cuff-Free Blood Pressure Estimation Using Pulse Transit Time and Heart Rate.  Int Conf Signal Process Proc 10.1109/ICOSP.2014.7014980 (2014).

[3] BM McCarthy et al. An Investigation of Pulse Transit Time as a NonInvasive Blood Pressure Measurement Method. Journal of Physics: Conference Series 10.1088/1742-6596/307/1/012060 (2011).

[4] C Holz,  EJ Wang. Glabella: Continuously Sensing Blood Pressure Behavior using an Unobtrusive Wearable Device. Proceedings of the ACM on Interactive, Mobile, Wearable and Ubiquitous Technologies 10.1145/3132024 (2017).

Como citar este artigo: Marco Túlio Chella. Óculos que monitora a pressão arterial. Saense. http://saense.com.br/2018/08/oculos-que-monitora-a-pressao-arterial/. Publicado em 21 de agosto (2018).

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