Matheus Macedo-Lima
25/04/2018

[1]
A doença de Alzheimer (DA) é a doença neurodegenerativa mais comum em idosos. Estima-se que 10% dos indivíduos acima de 65 anos apresentam sintomas de DA, sendo dois terços desses casos mulheres.

É uma doença de progressão rápida. Os estágios avançados ocorrem em apenas 3 a 8 anos após os sintomas iniciais [2], o que faz com que a qualidade de vida de pacientes e familiares seja rapidamente reduzida.

Apesar dos esforços científicos, parece que ainda estamos longe de encontrar a cura. Isso porque a DA é uma doença complicada, com diferentes fatores que culminam na morte progressiva de neurônios no cérebro. Por isso, novas medidas de diagnóstico e prevenção podem fazer uma grande diferença na qualidade de vida de pacientes e famílias. Até porque os exames atuais são geralmente realizados apenas quando os sintomas começam a aparecer e são geralmente desconfortáveis (coleta de líquido cefalorraquidiano ou tomografia por emissão de pósitrons com contraste).

Com isso em mente, pesquisadores buscam incessantemente por modos de diagnosticar a DA com precisão e conforto – ninguém gosta de receber uma agulhada na coluna – e especialmente antecedência; se possível até antes dos primeiros sintomas aparecerem.

E é exatamente isso que um grupo de cientistas suecos e alemães propõe [3]. Com um “simples” exame de sangue, eles mostram que é possível detectar o risco aumentado de desenvolver DA anos antes de qualquer sintoma aparecer.

Como assim? Vou explicar.

Na DA, o corpo começa a fabricar proteínas deformadas e disfuncionais, que se acumulam em células e causam sua morte. Essas proteínas mutantes começam a ser fabricadas anos antes de qualquer sintoma aparecer. O novo exame consegue detectar a proteína beta-amiloide deformada no sangue utilizando anticorpos contra a proteína acoplados a um sensor de luz infravermelha. A proporção de proteínas deformadas no sangue causa uma diferença na absorção de luz pelo sensor.

Analisando amostras de sangue coletadas em um outro estudo que acompanhou idosos alemães ao longo de décadas, o novo exame conseguiu prever com alta sensitividade quais pacientes desenvolveriam DA com até 8 anos de antecedência.

Além disso, o exame de sangue confere ótima correlação com exames de imagem de tomografia por emissão de pósitron (artigo do Saense a respeito aqui) diagnosticando com precisão pacientes que já apresentam a doença. No entanto, os pesquisadores alertam que, devido à alta complexidade da doença, o uso apenas do exame de sangue para critério de diagnóstico não é aconselhado.

Tudo indica que esse novo exame será mais intensamente testado em estudos clínicos para definitivamente comprovar e melhorar a sua eficiência. Essa possibilidade de detecção precoce pode impactar positivamente a vida de muitos milhões de pessoas, pois possibilitará um melhor preparo para que famílias lidem emocionalmente e providenciem cuidados a um familiar com doença de Alzheimer.

[1] Crédito da imagem: Simone Raineri (Flickr) / Creative Commons (CC BY-NC-ND 2.0). https://www.flickr.com/photos/simoneraineri/4663669250/.

[2] CJ Thalhauser and NL Komarova. Alzheimer’s disease : rapid and slow progression.  J R Soc Interface 10.1098/rsif.2011.0134 (2012).

[3] A Nabers et al. Amyloid blood biomarker detects Alzheimer’s disease. EMBO Mol Med 10.15252/emmm.201708763 (2018).

Como citar este artigo: Matheus Macedo-Lima. Novo exame de sangue detecta risco de Alzheimer anos antes de sintomas aparecerem. Saense. http://www.saense.com.br/2018/04/novo-exame-de-sangue-detecta-risco-de-alzheimer-anos-antes-de-sintomas-aparecerem/. Publicado em 25 de abril (2018).

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