Luana Mendonça
20/02/2018

[1]
Estrelas-do-mar são um dos representantes do filo Echinodermata mais conhecidos, pois são bem diversos, multicoloridos e representados em vários tipos de mídia, incluindo o Patrick do Bob Esponja. Só para efeito de curiosidade, além das estrelas, esse filo é representado pelas bolachas-do-mar, ouriços-do-mar, lírios-do-mar e pepinos-do-mar.

Evolutivamente falando, os representantes dos equinodermos perderam uma série de caracteres e hoje, seus representantes possuem sistemas fisiológicos (digestão, respiração, excreção, nervoso, dentre outros) considerados simples e por vezes similares aos encontrados em organismos mais ‘primitivos’. Um dos sistemas simples dos equinodermos é o nervoso, que é basicamente uma rede composta por um anel central e cinco nervos radiais ligados ao central. Em conjunto com esse sistema existem manchas ocelares (uma massa de até centenas de ocelos em forma de taça pigmentar – fotorreceptores) e pés ambulacrais sensoriais (percepção mecânica e química). Exceto os pés ambulacrais, que são exclusivos dos equinodermos, praticamente essa mesma estrutura de sistema nervoso é encontrado nos cnidários (anêmonas, águas-vivas, corais), considerado mais primitivo que os equinodermos.

Obviamente não podemos dizer que a simplicidade atrapalha as funções nesses organismos, pois vem funcionado há muito tempo, porém, também não podemos negar que o sistema nervoso dos equinodermos é ‘menos equipado’ comparado com os grupos que estão mais próximos a esse filo na escala evolutiva (como os cordados, grupo do qual pertencemos).

Mas a história da evolução das características dos organismos sempre nos surpreende e, mais uma vez, fomos presenteados com informações incríveis. Acontece que, pesquisadores encontraram estrelas-do-mar com olhos compostos (não apenas fotorreceptores) [2]! Mas Luana, que informação mais boba, e daí que esses bichos possuem olhos? Pode parecer meio bobo, mas até agora, sabíamos que as estrelas-do-mar se guiavam através do olfato (comunicação química) e descobrir que algumas espécies possuem olhos considerados complexos e que utilizam a visão como componente prioritário para orientação é no mínimo interessante (é legal pra caramba).

Além de descobrirem algumas espécies que possuem olhos, em cada um dos braços, os autores também descobriram que dentre essas espécies de profundidade, algumas possuem também capacidade de bioluminescência. Essa bioluminescência, segundo os autores hipotetizam, pode ser um recurso utilizado para atrair parceiros durante a reprodução.

Outro fato interessante é que mesmo que várias das estrelas-do-mar encontradas possuam olhos, os pesquisadores acreditam que cada uma delas tem uma estrutura ocular basicamente própria, algumas tendo olhos mais vantajosos para curta distância, outras com olhos que aumentam a sensitividade, mas em sacrifício da resolução espacial.

Esses achados mostram que por mais que avancemos nas pesquisas sobre a vida e sua evolução, sempre seremos chocados com novidades que podem revolucionar a caracterização de grupos considerados ‘simples’ e bem estabelecidos dentro das relações de parentesco com outros grupos. E que os ‘tiros’ continuem vindo!!!

[1] Crédito da imagem: Adaptação de Luana Mendonça a partir de imagens de Peter Southwood (Wikimedia Commons) / Creative Commons (CC-BY-SA-3.0). https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Orange_starfish_at_Island_Rock_DSC04759.JPG  e de Edaframes (Wikimedia Commons) / Creative Commons (CC-BY-SA-4.0). https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Designer_eyeglasses_%26_sunglasses_brand.jpg.

[2] MH Birk et al. Deep-sea starfish from the Arctic have well-developed eyes in the dark. Proc R Soc B 285, 20172743 (2018).

Como citar este artigo: Luana Mendonça. Que tiro foi esse? Estrelas do mar de regiões profundas do Ártico possuem olhos bem desenvolvidos! Saense. http://www.saense.com.br/2018/02/que-tiro-foi-esse-estrelas-do-mar-de-regioes-profundas-do-artico-possuem-olhos-bem-desenvolvidos/. Publicado em 20 de fevereiro (2018).

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