Claudio Macedo
21/02/2018

[1]
A ONU (Organização das Nações Unidas), através da Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, estabeleceu em 2015 os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que deverão orientar as políticas nacionais e as atividades de cooperação internacional nos próximos quinze anos. Os ODS contemplam 17 objetivos, envolvendo temáticas diversificadas, como erradicação da pobreza, segurança alimentar e agricultura, saúde, educação, igualdade de gênero, redução das desigualdades, energia, água e saneamento, padrões sustentáveis de produção e de consumo, mudança do clima, cidades sustentáveis, proteção e uso sustentável dos oceanos e dos ecossistemas terrestres, crescimento econômico inclusivo, infraestrutura e industrialização, governança, e meios de implementação [2]. Os padrões estabelecidos nos ODS, naturalmente, seguem de perto os níveis de qualidade de vida atuais dos países ricos.

Todas as nossas atividades diárias, como fazer uma refeição, escovar os dentes e usar o celular, utiliza recursos naturais de alguma forma. Tendo isso em conta e considerando os ODS, pesquisadores europeus usaram indicadores de desenvolvimento e quantificaram o uso de recursos naturais associados ao atendimento de necessidades humanas básicas por país e compararam isso com os limites de uso desses recursos em escala global, considerando 150 países [3]. Eles descobriram que nenhum país atende atualmente às necessidades básicas dos seus cidadãos em um nível globalmente sustentável de uso de recursos naturais. As necessidades físicas, como a nutrição, o saneamento, o acesso à eletricidade e a eliminação da pobreza extrema, podem ser cumpridas para todas as pessoas sem transgredir os limites sustentáveis do planeta. No entanto, a realização universal de metas mais qualitativas que impliquem, por exemplo, em satisfação com a vida, apoio social e igualdade, exigiria um nível de uso de recursos que seriam de 2 a 6 vezes o nível sustentável, considerando os padrões de qualidade de vida adotados nos países ricos.

Atualmente, a humanidade enfrenta o desafio de alcançar uma melhor qualidade de vida para pouco mais de 7 bilhões de pessoas sem desestabilizar os processos planetários críticos com o uso excessivo de recursos naturais. O problema é ainda maior diante da previsão da própria ONU que a população mundial deve subir para 9,7 bilhões de pessoas em 2050 e 11,2 bilhões em 2100.

Os países ricos satisfazem as necessidades básicas de seus cidadãos, porém eles fazem isso em um nível de uso de recursos que é muito além do que é globalmente sustentável. Em contraste, os países que estão usando recursos em um nível sustentável, os países pobres, não conseguem satisfazer as necessidades básicas de seus cidadãos.

Sendo assim, é preciso mudar a agenda de desenvolvimento dos países; é preciso passar a utilizar um modelo econômico e social onde o objetivo seja um bem-estar humano sustentável com plena equidade entre os países. Nesse caso, para que todas as pessoas tenham uma vida boa, dentro dos limites dos recursos naturais do planeta, o nível máximo de uso de recursos associado ao atendimento de necessidades básicas terá que ser reduzido para um padrão muito abaixo do praticado atualmente pelos países ricos.

[1] Crédito da imagem: cocoparisienne (Pixabay) / Creative Commons CC0. https://pixabay.com/en/children-play-rock-leisure-2487845/.

[2] Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/desenvolvimento-sustentavel-e-meio-ambiente/134-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel-ods. Acesso em 20 de fevereiro (2018).

[3] DW O’Neill et al. A good life for all within planetary boundaries. Nature Sustainability 10.1038/s41893-018-0021-4 (2018).

Como citar este artigo: Claudio Macedo. Os limites de qualidade de vida com os recursos disponíveis na natureza. Saense. http://www.saense.com.br/2018/02/os-limites-de-qualidade-de-vida-com-os-recursos-disponiveis-na-natureza/. Publicado em 21 de fevereiro (2018).

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