Claudio Macedo
12/10/2017

[1]
Pesquisadores dos EUA e da Inglaterra identificaram uma correlação muito forte entre a qualidade da bacia hidrográfica de uma região e a saúde das crianças que lá residem. Eles descobriram que nas regiões cuja bacia hidrográfica tem maior cobertura vegetal a montante (locais mais próximos das nascentes) as crianças que vivem em áreas rurais, incluindo as áreas a jusante (locais mais próximos da foz), têm um índice de mortalidade menor do que nas regiões que possuem suas bacias hidrográficas degradadas. Especificamente, o trabalho constatou que as crianças menores de cinco anos que vivem em regiões de bacias hidrográficas não degradadas são menos propensas a sofrer de doença diarreica [2].

A pesquisa usou um grande conjunto de dados sobre 300 mil crianças de 35 países da África, Ásia, América do Sul e Caribe. Foi levado em conta diversas variáveis socioeconômicas, como idade da criança, educação da mãe, renda familiar e acesso a saneamento e fontes de água, e a correlação com a ocorrência de doença diarreica, que é a segunda principal causa de morte para crianças menores de cinco anos.

Os autores consideram que a degradação da bacia hidrográfica, definida como a perda da cobertura natural da terra e os impactos resultantes sobre a hidrologia, está ligada à perda de serviços essenciais do ecossistema. Os ecossistemas, como florestas e zonas úmidas, podem filtrar poluentes e agentes patogênicos dos suprimentos de água de superfície, que é a principal fonte de água potável das populações rurais.

O resultado da pesquisa é consistente com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) que tem divulgado que uma em cada quatro mortes de crianças menores de 5 anos são atribuíveis a ambientes pouco saudáveis, e que 361 mil crianças morrem de doença diarreica todos os anos devido ao acesso deficiente a água limpa, saneamento e higiene. Além disso, dados de 2015 mostram que 79% das pessoas em áreas urbanas têm fontes de água canalizada, em comparação com apenas 33% em áreas rurais, e que 63% das famílias urbanas melhoraram a água que consomem (filtram ou fervem), enquanto apenas 22% das famílias rurais o fazem.

O que esse estudo evidencia, na prática, é que o investimento na preservação (ou recuperação) da cobertura vegetal de bacias hidrográficas é tão importante quanto o investimento em infraestrutura de saneamento básico. A saúde pública e o meio ambiente são os beneficiários diretos desses investimentos. [3]

[1] Crédito da imagem: Sheila Sund (Flickr) / Creative Commons (CC BY 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/sheila_sund/15496065108/.

[2] D Herrera et al. Upstream watershed condition predicts rural children’s health across 35 developing countries. Nature Communications 10.1038/s41467-017-00775-2 (2017).

[3] Artigo relacionado: Três trilhões de árvores.

Como citar este artigo: Claudio Macedo. Cobertura vegetal diminui a mortalidade infantil. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2017/10/cobertura-vegetal-diminui-a-mortalidade-infantil/. Publicado em 12 de outubro (2017).

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