Marco Túlio Chella
23/03/2017

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Definir o que é robô não é tarefa fácil, em parte, podemos ser influenciados pela ficção, com máquinas geralmente antropomórficas, autônomas e com habilidades semelhantes ou superiores a nós humanos ou pela realidade atual de uma linha de produção em uma indústria, com manipuladores robóticos repetindo, com precisão, tarefas como soldagem e movimento de peças que irão compor um produto. Nesses dois extremos existe uma gama significativa de artefatos que podem ser considerados robôs; alguns, como os agentes de software ou os chatbots que sequer possuem uma estrutura física. Diante da impossibilidade de uma definição abrangente, fico com a declaração de Joseph Engelberger, um pioneiro na indústria robótica: “Eu não posso definir um robô, mas sei reconhecer um quando o vejo”.

Recentemente, a indústria e centros de pesquisa apresentaram uma nova categoria de robôs com função de assistentes pessoais. O conceito principal desse robô é uma máquina que nos auxilie nas atividades do dia a dia nos mais diversos contextos; se assistindo uma criança, irá monitorar o cumprimento de horários e obrigações e oferecer entretenimento, como contar histórias ou jogos; para uma pessoa idosa, poderá analisar padrões para detectar anormalidades que comprometam a segurança, auxiliar na rotina, como verificar a administração de medicação, ter mecanismos de comunicação para que o contato com familiares e amigos seja efetivado de forma simplificada e transparente.

Dois exemplos desse tipo de robô são o Jibo [2] e o Dino [3]. O primeiro, lançado em 2014, em campanha de financiamento coletivo, pela pesquisadora do MIT Cynthia Breazeal, pioneira na pesquisa com robôs sociais, ainda está em desenvolvimento e não está amplamente disponível para aquisição. O Dino, com a aparência de um dinossauro e cores vibrantes, tem como público crianças, lançado, também, em campanha de financiamento coletivo, tem como foco principal a interação com objetivos educacionais e entretenimento.

Os robôs exemplificados, e outros dessa categoria, seguem alguns padrões de projeto comuns a esse tipo de dispositivo, como uma estrutura mecânica que dá suporte a motores, sensores, câmeras, baterias e unidade eletrônica de controle e processamento.  Esses elementos, propiciam ao robô mobilidade, monitoramento do ambiente, como temperatura, distância de objetos e coordenação dos diversos elementos, porém, para atender os requisitos de um robô assistente, é preciso que ele seja capaz de reconhecer o rosto e expressões das pessoas, capturar a voz e reconhecer palavras e expressões, e executar ações a partir dessas informações. Atender esse requisito demanda a execução de algoritmos complexos que demandam recursos computacionais não atendidos por processadores embarcados nos dispositivos. A solução encontrada foi capturar as informações localmente, envia-las via rede Internet para um computador remoto que processa as informações e retorna o resultado. Isso configura o processamento distribuído, utilizando computadores na nuvem. O Dino, por exemplo, utiliza o cérebro do computador da IBM Watson, conhecido por ter vencido humanos no jogo Jeopardy.

Os robôs assistentes pessoais atuais são caros, a capacidade de interação com humanos é ainda limitada e, às vezes, frustrante, contudo, com o uso dos cérebros remotos armazenados na nuvem, diariamente capturando bilhões de fotos, vídeos e textos gerados por nós humanos, provavelmente irão aprender sobre nossa complexidade e talvez, em um futuro próximo, se tornem bons parceiros.

[1] Crédito da imagem: Gio.Pais / Creative Commons (CC BY-SA 4.0). URL: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Buddy-robot.jpg.

[2] Jibo. URL:  https://www.jibo.com/. Acesso em 20 de março (2017).

[3] Cognitoys. URL:  https://cognitoys.com/. Acesso em 20 de março (2017).

Como citar este artigo: Marco Túlio Chella. Robôs com o cérebro na nuvem. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2017/03/robos-com-o-cerebro-na-nuvem/. Publicado em 23 de março (2017).

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